quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Ironman World Championship 2012















Alguns dias se passaram e muitas pessoas me perguntando o que aconteceu com minha bike; como foi minha prova; etc. Segue abaixo um relato longo desse Mundial, que tive o prazer -em alguns momentos não tanto- de participar!

Bastidores antes da prova
Durmi bem na noite anterior, mas no fundo gostaria de ter dormido mais nessa noite- sempre assim! Levantei, comi normalmente -  o que nunca acontece em um dia de Ironman-, finais arrumações, e hora de ir para a prova.
                Fui pouco ao banheiro-estranhei isso também. Fui para a  pintura e transição. Calibrei o pneu dianteiro que foi o único que tinha murchado na véspera, apenas apertei pneu traseiro para checar e nem calibrei – o mairo erro que poderia ter cometido.Verifiquei tudo na bike, bem calmamente e fui esperar a largada.
                Pouco antes da largada não estava nervosa como fico-o que também estranhei. Rss.
 Percebi que no meu insconsciente, meus objetivos principais já tinham ido por água abaixo e aceitaria qualquer resultado; queria apenas diminuir meu tempo do ano anterior. Incrível como a nossa mente trabalha a favor do nosso consciente e insconciente..- se é possível entender o que quis dizer. Um fato que me desanimou muito foi o simples fato de ver as bikes nos dias anteriores à prova. Sei que não significa nada; mas em uma prova dessa, qualquer motivo, `as vezes, gera motivos e cria monstros na nossa cabeça. Isso é Mundial. Incrível como enxergar que a maioria tem equipamentos superiores ao teu pode derrubar sua confiança –mesmo depois de tanto treino com o seu equipamento- e te fazer duvidar da escolha do teu  equipamento.. Apesar de ter treinado bem com minha bike road Specialized com clip - Venge Pro que ganhei de patrocínio, pois estava sem bike para competir-, sabia que o ÚNICO vento que não poderia pegar na prova era o vento contra. Isso seria, com certeza, uma desvantagem grande entre a minha e as TTs com rodas animais. A minha Specialized era dinâmica e rápida em uma prova mais curta; e certamente com vento lateral – rodas com perfil menor- responderia muitíssimo bem.
                Outro fator que me deixou com um certo ressentimento foi muita aparição na mídia antes da prova.  Precisava de divulgação para agradecer patrocinadores e pessoas que trabalham em conjunto comigo. Mas acredito muito em energia boa e ruim; inveja e admiração. De um certo modo, sempre gera uma expectativa de quem lê. Não gosto muito disso. Participei de um programa de tv e descobri a realidade da tv; bastidores de fotos, modelos, etc. E tenho que dizer que nada disso tem haver com minha personalidade. Não gosto, porque não é natural, espontâneo e verdadeiro. Sei que é preciso fazer, muitas vezes, mas não posso deixar de me sentir desconfortável e desconfiada. ENTRETANTO, algumas das reportágens e fotos foram feitas naturalmente, sem eu saber; algumas foram traquilas, e algumas matérias ficaram muito legais! Obrigada a quem trabalhou nessa divulgação! TriSport, MundoTri, Uol com Folha de SP ficaram show!  As fotos paparazi de revista website americana, francesa criou um clima meio tenso entre as meninas e a gente! Rsss. Esse dia a gente estava em todas as revistas eletrônicas de triathlon do mundo.
              
                Em 2010 quando tinha vindo a última vez em Kona e pego pódium em 5 lugar, tinha ficado feliz de ter alcançado o objetivo, mas com raiva também- sabe quando a gente não digeri- porque sabia do meu potencial e possibilidade de brigar pelo primeiro ou segundo lugar. Depois de muito tempo passado, olhava para trás e algumas vezes, cheguei em acreditar, que talvez, tivesse descansado pouco antes da prova. Este ano então resolvi sossegar antes, e acho que não funcionou comigo, não. Acho que descansar demais pra mim gera um estado "meio empacado", que para entrar num ritmo forte no dia da prova é mais difícil, e não automático, como deveria ser.

                Bom, esse foi o bastidor antes da prova. Fora tudo isso, sabia que brigar por um pódium real seria, talvez, uma “missão impossível”, pois a maioria das meninas brincam de vida de triatleta profissional, mesmo competindo como amadoras. Entretanto, é essa a grande beleza da prova de Ironman, para mim, é realmente acreditar que “tudo é possível”, tanto para o lado bom, quanto para o ruim. A gente nunca sabe o que pode ou vai acontecer. Se conseguisse repetir o tempo de Floripa - o que poucos triatletas brasileiros conseguem fazer, no mesmo ano em uma prova totalmente diferente- conseguia um pódium. Então a missão não era tão impossível; era apenas acreditar, pois os treinos já estavam 99% completados. Só não contava com o dia que me esperava na prova!

                Natação 
                Entrei no mar com a Cintia, escolhemos um lugar próximo do meio, pois do lado direito , próximo do pier, o caminho é maior, e no lado esquerdo, onde costumava largar mais vazio e tranquilo, este ano estava lotado. Saímos próximo da frente.
                Não teve canhão; foi estranho. O cara simplesmente falou “go go go”. Assim começou a natação mais violenta da estória. Sinceramente não tem mais espaço para aumentar 200-400 vagas a cada ano. Sugiro que a organização separe amador masculino 10 antes do amador feminino por dois motivos: 1- todo mundo vai conseguir nadar e puxar água, e não puxar: gente, braço, perna, cabeça, chute, soco, pontapé. Todo mundo treina para puxar água e nadar, e não se prepara para uma luta dentro da água. Sinceramente, eu não nadei; eu lutei por 1hr10`. O povo faz coisas desnecessárias também. A sensação real é de que tem mais pessoas do que água. Se fosse parar para mudar de sentido seria engolida, se nadasse por baixo das pessoas para cortar, nunca mais conseguia subir para a superfície, e a única maneira foi cortar por cima para sair do povo lutando pelo mesmo espaço que você; e aguentar a luta livre; 2- deixar a competição mais limpa. Como é ridículo o vácuo nessa prova, ainda mais em dia com vento contra, como foi nesse dia. Vergonhoso um atleta que está dentro do mundial pegar punição. Fica claro que são os memos atletas que tomam substâncias ilícitas, tiram vantagem da roda dos homens fortes, e muitas vezes sobem no pódium pela grande performance. Super grande né. Daqui a pouco a única solução é largada contra relógio, ou mais óbvio, liberar a porcaria do vácuo de uma vez. 

                Saí da água e a sessão dos 20-30 anos mais vazia. Agora o resto da transição inteira lotada de bike. Agora que a luta livre acabou, fui com tudo para o pedal mais infernal da minha vida. Eu achava que o pior tinha passado. Doce ilusão.

Ciclismo
                Sentei na bike e não saia do lugar. 23km/hr, hein?!  Geralmente sento na bike já em 34km/hr e vou seguindo ritmo Iron. Pensei que certamente estaria cansada ainda da natação e bla blá blá. Erro. Devia ter parado e me certificado que a bike estava ok, porque não estava. Uma sessão de acontecimentos estranhos simplesmente me enganaram e me confundiram; me fazendo apenas seguir em cima da bike, e não parar para arrumar tudo que estava errado. Talvez fosse instinto; não sei. Sempre digo que se parar durante uma prova de Iron, não continuo. Talvez tenha sido esse instinto me dominando.
                Erro brutal. Fiz uma perna pequena na Kuakini e assim que coloco os braços no meu clip, o lado direito desaba. P%^&*$, brincadeira?!! Fiz revisão no Brasil, vim 2 semanas antes; pedalei todos os dias no clip; mandei na loja de bike em Kona há mais de 8 dias antes da prova; aliás não saía dessa loja, sempre para arrumar algum detalhe- cateye que parou de fucionar, isso e aquilo. Como que 2 dias antes eu estava pedalando no clip e o clip estava firme, e hoje sento na bike e “puft”?!! Alguém de sacanagem comigo??! Beleza, usei o clip como deu, solto, sem firmeza mesmo. Mas, de novo, deveria ter parado, pego a porcaria da chave, apertado, visto o pneu traseiro murcho, calibrado com Co2... Erros e fatos bizarros.  Foi, mais ou menos, assim que meu pedal foi pra lata do lixo. Sabe quando a gente está treinando e pensa que o pneu está furado, checa e vê que foi só impressão, talvez o sentido do vento?! Foi isso que comecei a pensar. E não parei para realmente checar o pneu.  Mas tinha algo de errado. Fui a primeira brasileira a sair da água, porque todo mundo está me passando?! Porque só eu não saio do bendito lugar?!

                Objetivo esse ano era pedalar pra 5hr40`. Com esse vento contra, sem bike TT e sem rodas de perfil mais alto; certamente o tempo normal nesse dia seria próximo de 6hr, no máximo. O que me deixaria com o tempo idêntico a 2010. Só que dessa vez, dos 2000 e tantos participantes, eu vi 1600 atletas me passarem no ciclismo. – incluindo todas as mulheres brasileiras que saíram atrás de mim do mar e incluindo todos os idosos bons de Kona. TODO MUNDO ME PASSOU!  Meu estado era de desânimo. Ai, sim comecei uma briga mental forte; paro ou não paro?! Simplesmente não consegui lutar e encaixar um ritmo. Parecia que estava passeando de Sesi. Se no começo tinha achado que era cansaço, depois achei que era o sentido do vento que estava segurando minha roda traseira. Depois era tarde. Fiquei metade do pedal pensando em como a Cintia estaria – preocupação e falta de concentração e foco. Até o momento que ela me passou no ciclismo – ISSO MESMO! Até ELA me passou! RS. Perguntou o que eu tinha. Eu falei que não sabia; minha bike não saia do lugar, o vento estava contra, e eu não sabia o que estava acontecendo. Até esse momento pensei em ficar na estrada, vi tantas pessoas largadas. Mas no momento que ela me passou, tinha a certeza de que teria que terminar, mesmo infeliz, mesmo sem curtir, mesmo sem conseguir fazer o que eu faço. Terminaria, pois caso contrário, ficaria mais infeliz ainda. E se parasse pra consertar tudo agora, perderia mais tempo ainda. Devia ter parado quando sentei na bike em primeiro lugar...

Não culpo um clip caído e um pneu murcho por tudo. O ciclismo foi duro para todos. O vento foi contra por praticamente todo o percurso. Apenas 30km, na descida de Hawi estava a favor; de resto sofrimento, vento contra mesmo. Lateral como de costume, eu não me lembro de uma só rajada. Vento atípico. Vento do inferno. Vento que em nenhum dos dias, em nenhum dos treinos em todos os dias de adaptação que fiquei lá, eu peguei. O pior vento que poderia ter em Kona, teve; essa foi a realidade.

Vejo esse ano uma boa mudança na organização. Nunca vi tantos fiscais trabalhando e fazendo o que têm que ser  feito. Vergonhoso é esse monte de cowboy que só pensa em tempo de prova e status. Se todo mundo fizesse uma prova limpa, tudo seria diferente. A separação da largada da elite já foi um grande progresso e é assim que a gente vai visualizar novos atletas chegando no topo. Regras mais bem impostas, muda o cenário de uma competição. Vergonhoso é alguém que está dentro de um Mundial levar penalização. Prova limpa é pedalar no tempo que for, seja o resultado, a colocação, o status geral da prova.


Corrida 
A oportunidade de estarmos juntas - eu e a Ci- em Kona, novamente, era nula. Terminei o pedal, pensando que seria a última pessoa da prova. Quase  7hrs; se fosse correndo chegava antes hein?! Na última vez, saí da bike e a elite masculina estava seguindo para o Energy Lab. Dessa vez, na transição 2, o Andreas estava terminando a prova. Não quis processar na minha consciência. Mas sabia que estava 1hr30`atrás do que desejava estar. Isso é MUITO. Saí para correr, pensando em alcançar a Cintia, corrermos juntas a maratona e terminar juntas. Depois de tudo, seria o final mais perfeito, diante de tanta imperfeição e frustração. Saí desanimada, mas fui animando. Pensando na benção de estar ali. As músicas, torcidas – criança dizendo “You’re gonna be an Ironman today”. Placas dizendo “Today is your day”. Corri sorrindo, exalando alegria, por muitos pontos, onde eu percebi que a essência dessa prova, acima de ganhar ou perder, era superação. Essa não era o primeiro Iron que tudo dera errado, e não seria o último. Parei para ir no banheiro, e perdi menos de 1`- e se perdesse 10` nesse ponto "Whatever"; minha barriga estava revirando e doendo.  Segui, apertei o ritmo. Alcancei a Ci no km 20, onde ela estava cansada e desanimada. Falei para irmos juntas. Ela falou que estava mal, iria devagar e sempre, e para eu seguir e fazer minha prova. Eu respondi que não. “Vamos juntas; minha prova já foi pro lixo”. Ela estava devagar, e eu estava no gás. Fui embora. Dai até o final corri em um ritmo forte. Queria acabar logo. Falei pra ela que me esperasse na linha de chegada. Sei que pra ela, os últimos 20-10km são péssimos. Já pra mim, gostaria profundamente, de que o Ironman tivesse 50 ou 60km de corrida; seria muito mais divertido.

                Terminei  e estava escurinho -depressão total, pensei. Peguei bandeira, soquei a bota até o final e cheguei. 11hr46`. O tempo que nunca pensei que terminaria nesse ano. 
Sim, deu tudo errado!
Sim as condições da prova estava duras nesse dia! Mas fiquei frustrada e gostaria que fosse outra a prova que errasse e aprendesse; não essa! Gostaria de ter quebrado de ter errado o ritmo, e não de ter feito um tempo ruim, porque nem ritmo eu consegui ter. Mas, infelizmente,  aconteceu e não tive como mudar. Ainda pensei, que se corresse realmente focada e com raiva, talvez correria para 3hr e pouco e chegaria, ainda assim, próximo de 11hrs. Mas já tinha desistido há muito tempo de um grande resultado. 

                Fui checar depois os resultados e ver que a menina que ganhou na categoria fechou em 9hr51`e a segunda em 9hr52`. Caramba! Se eu alcançasse meu objetivo de tempo – 10hr30` ficaria em 10ª colocação.

Na minha opinião, o pior fato que poderia acontecer nas provas de Ironman foi terem feito um ranking profissional – por pontuação- para largar. Os tempos dos top amadores vão diminuir cada vez mais, pois esses vão permanecer brincando de “triatleta profissional”, mesmo sendo amadores, pois se tornarem profissionais não têm mais possibilidade de largarem em Kona. Essas meninas vivem disso; não trabalham; têm patrocínio, a vida é treinar, comer, dormir, viajar para treinar e competir. Na minha opinião, vai ficar cada vez mais feio. Os top amadores alcançam os profisisonais, durante a corrida e a bike, mesmo com 30` de diferença de largada. Se no Brasil, muitos criticam alguns atletas top amadores; fora do Brasil é muito pior. Esse povo só não compete como profissional, porque não voltaria para o Ironman de Kona como profissional. E nisso, a possibilidade de um brasileiro profissional largar em Kona é muito baixa, e de os brasileiros amadores subirem ao pódium, também. 

                Tenho que agradecer a todos meus apoios e patrocínios: Broto Legal, Elite Bike Campinas-  Specialized, Elo, Oxigenação, Clip Academia, 3T. Sem vocês não teria finalizado mais um Campeonato Mundial de Ironman.

Agradecimentos especiais para minha família, amigos e namorado; as pessoas que me acompanham diariamente e aqueles que torcem por mim e têm um afeto grande mesmo distante de minha pessoa!

Finalizo essa temporada sem mais competições, apenas o treinamento. Ano que vem começa uma nova temporada com novos objetivos e mais provas!

OBRIGADA!
Obrigada Samir pela paciência no treinamento de natação. Sei que o trabalho é infinito, mas apesar das condições da natação desse Iron, ser a primeira mulher brasileira do Campeonato Mundial, a sair da água já é um resultado satisfatório.
Obrigada Ricardo pelo acompanhamento, compreensão e motivação, e por nunca deixar de acreditar.
Obrigada Broto Legal, sem vocês não teria ido até o Hawaii!
Obrigada minha família que compreende - as vezes! Rss- algumas ausências e meu estilo de vida maluco de ser.
Obrigada família, namorado e amigos por todo apoio e suporte, em todas as decisões que faço na vida e no esporte!
Tive o prazer e a benção de passar 3 semanas em Kona, competir mais um Campeonato Mundial de Ironman, e tenho ainda, estórias e memórias que poderei dividir ao longo de toda a vida! 





OBRIGADA!!

               
P.S.: Não desisti de outro pódium em Kona! O sonho permanece, agora sigo trabalhando nele. A hora certa vai chegar!

Um comentário:

  1. Lu!!! parabéns. Agente sabe que a vida é assim mesmo...altos e baixos...mas nunca desistimos!! sempre em frente!!! Gostei do relato!!! me senti em Kona!!!! bjoo

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