segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Frustração



Uma das minhas maiores frustrações como atleta aconteceu em um Campeonato Mundial. Uma semana após a prova, muitas pessoas que me acompanham diariamente, querendo saber sobre a prova, quando me encontram.  Resumir tantas vezes, em tão poucas palavras dói. Sei que vou superar essa fase de frustração e decepção, como já fiz mais de uma vez no esporte. Isso realmente acontece. Só que dessa vez a causa foi diferente e isso marcou muito. Não foi o tempo X que deixei de fazer, ou a colocação Y que deixei de alcançar.

Meu 9 Ironman e 3 em Kona em 4 anos. Sei que não é pouco; e é resultado de muito treino e acima disso, paixão pelo esporte.

O que me deixa frustrada é não saber ao certo o que aconteceu nesse dia.  E ficar martelando na cabeça. Os e SE s são poucos, eu deveria ter o direito de saber o que aconteceu.

Não sei se a maioria que leu o relato, entendeu, ao certo, o problema que eu tive com minha bike. Relatei por cima, mas não detalhadamente. Tenho certeza, que muitos devem ter pensado “Nossa como ela é burra, o pneu furado e ela nem se tocou.”. E’ exatamente ai que o buraco fica lá em baixo. O pneu NÃO estava furado. Ele não furou antes de sair para pedalar, nem durante e nem após. Ele está intacto. E foi por esse motivo que minha cabeça me confundiu e eu não parei como deveria ter parado.
 
A ordem dos acontecimentos:
- Bike check-in na véspera da prova. Deixei a bike lá; ela estava PERFEITA. Tudo MAIS do que checado, muito antes, próximo da prova, e antes de deixar a bike lá. Aliás, eu fui pedalando do meu apto até o pier, 10km, usei o clip, estava ok, ambos pneus, rodas, marchas reguladas; perfeito. Tudo pronto.

- Como em Kona o calor vem de cima e de baixo, os staffs falam para a os atletas murcharem levemente os pneus, pois vão passar o resto da tarde e a noite por lá. Eu esvaziei o pneu dianteiro, pois estava com uma roda 404 atrás e um alongador. Assim pedi um clips, mas sem essa opção ou qualquer ferramenta; deixei pra lá e o pneu traseiro ficaria assim mesmo, sem problemas.

- Após o check in, minha irmã me falou que o staff que a acompanhou falou que todos os pneus nesse dia seriam murchos. Como ela havia me falado isso, eu chequei com a maior cautela pela manhã. O staff que me acompanhou não me falou nada disso. Como poderia um falar e o outro não!? Treinamento para staff de transição existe até no Brasil.



- No dia da prova, minutos antes da largada, fui até a bike, chequei ela inteirinha. Calibrei o pneu dianteiro. Mas tive certeza absoluta que o pneu traseira estava 100%  e não precisva de mas nenhuma calibragem. Poderia eu ter errado e concluído que estivesse cheio, mas não ter percebido que precisaria de calibragem?!  

- Quando sai da água e cai na bike, em primeiro lugar, eu NUNCA pensaria que o problema era um pneu murcho, porque na minha cabeça tinha verificado tudo muito antes da prova, inclusive nesta manhã. Essa possibilidade não me passou pela cabeça, porque se o pneu fura, em algum momento dessa distância- 180km-  fica óbvio - seja mini furo ou um furo maior-, e é necessário trocar; além disso, enquanto pedalava eu olhava para roda traseira por baixo e via que não estava no chão ou nem próximo disso; não era perceptível, nem em subidas, nem em buracos, nem em oscilaões. Eu simplesmente, NUNCA ia pensar que o pneu estava faltando calibragem.

- O único momento que pensei no pneu traseiro realmente murcho - depois dos 180km- foi na T2, quando desci da bike. A primeira coisa que fiz quando desci da bike foi apertar o pneu traseiro. Eu ri de desespero, mas até então, nesse momento, não tinha certeza de nada. A prova estava acontecendo, eu sai para correr; já estava no inferno. Não fazia sentido parar para calibrar o pneu e ver se tinha furo.A distância do inferno tinha sido completada.

- A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa na noite da prova, foi pegar a bendita bombar e mandar ver. Quando coloquei a bomba, a calibragem mostrava 60; eu calibro próximo de 110-120.  Deixei de um dia para o outro. O pneu não furou. Estava intacto. 

-  Essa roda, veio comigo na mão do avião, pois não cabia no case -eram 3 rodas. Quando cheguei no Brasil, a primeira coisa que fiz foi pegar a bendita roda – que pesadelo!- e enchê-lo. Larguei 1, 2, 3, 4, 5 dias e nada! Pneu sem furo algum. Nenhunzinho, nem minúsculo. Nada. 


Fica assim a minha pergunta;
 A organização tem o poder de mexer na bike de todo e qualquer atleta, seja para uma intervenção boa ou ruim?!
Poderia o meu staff, esvaziado o meu pneu traseiro no dia anterior, e não ter obrigação alguma de verifiar que estive ciente desse fato?!!
PIOR –até inacreditável que possa existir essa possibilidade - , poderia qualquer pessoa ou competidor colocar as mãos na minha bike na manhã da competição, após eu já ter saído da transição?!

Sei que parece loucura. Mas eu gostaria muito de saber o que aconteceu. Acho que merecia algum tipo de justificativa.
Posso parecer louca. A questão não é responsabilizar alguém por ter feito algo. A responsável pelo meu equipamento sou eu. Mas quando algo bizarro e estranho assim acontece, ninguém sabe de nada, ninguém fez nada. São millhares de pessoas juntas em um mesmo lugar, competindo, staffs, atletas, pessoas que nem inglês falam; uma zona. Como é possível que haja uma falta de comunicação tão grande para que uma situação dessa surgisse ?! –em Kona ainda.
 
Acho que por muito tempo vou continuar pensando, pensando, pensando nisso tudo.

Certamente não tem conclusão. Fora os meus erros em tomada de decisões. Compreender o que aconteceu de verdade, não vou.

Em Kona mesmo, estive conversando com o Rodrigo da Trisport e ele me contou o fato bizarro do Ironman de NY, em que ele saiu da natação em um tempo excelente – e na tua cabeça pensava que pegaria uma vaga para Kona-; foi pedalar e cadê a segunda sapatilha que estava em sua bike?!! 16` tentanto resolver o problema na T1 e nada?! Organização? Staff?? Quem é o responsável?!Quem foi?! OU MELHOR, cadê a sapatilha?! Ele me falou que foi pedalar com um pé de tênis e uma sapatilha em outro pé. O quão bizarro é isso pra quem treina igual um camelo e no mínimo espera ter seu equipamento do jeito que deixou.

Acho inacreditável. Até por isso, prefiro pensar que eu sou a louca, do que acreditar que alguém sequer teve algo haver com isso. 

 
Outro fato bizarro é ver a negada, em Kona mesmo, saindo dos banheiros com as sapatilhas de bike nos pés. Tac tac tac. Eu nunca entendia essa bizarrise. A minha sapatilha é colocada na minha bike, praticamente, nunca a tiro da minha bike. Agora que esse episódio passou, começo a pensar diferente. E se eu sair da natação e não encontrar minha sapatilha lá?! Não seria mais cauteloso deixar a sapatilha na sacola e ter que vestir e sair correndo ridiculamente igual um monte de gente?!!


Quando eu acho que já vi tudo, vejo que jamais enxerguei nenhum palmo ã minha frente...
Aonde vamos parar...

P.S.: Vou mandar um email para a organização e ver o que eles vão me responder...

Um comentário:

  1. Lú, no meu primeiro iron eu tentava trocar as marchas e elas iam pra cima e pra baixo sem controle algum.

    Ou não iam para lugar nenhum...

    Tive que fazer aquelas subidas miseráveis no coroão morrendo de medo das correntes arrebentarem...

    Era uma coisa insana!

    A bike foi no meu carro. Portanto, saiu da revisão em SP direto para a prova.

    Voltei para SP e levei a bike no cara que fez a revisão - e o sujeito é dos bons, sabe? Como é que ele iria cometer um erro tão grosseiro???

    Bom, ele colocou o olho na coroa maior e ela estava retorcida! Mas muito retorcida!

    A minha sorte é que sou macaco velho e cheguei lá pianinho, com toda a educação do mundo - a culpa poderia ser de todo mundo, menos dele!

    Até hoje não sei o que ocorreu. Retorcer uma coroa não é fácil.

    Pior - no dia seguinte o pneu traseiro estava vazio. Ai eu te pergunto: será que ele foi perdendo pressão durante a prova?

    Enfim, como dizia aquele seriado "A verdade está lá fora"...;-)))))

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