Kona 2011

Desde o primeiro ano que fui a Kona, todos os anos que seguiram, foram marcados por um sim, um nao na ilha mágica. Nunca espero que aconteca assim, trabalho duro para tentar conseguir a vaga todo ano, mas de certo modo, acostumou. De certo modo, virou um equilíbrio para repensar nos outros parametros da vida, reestabelecer as metas e treinar com muito mais calma e focada muito mais longe. Acho importante isso, visar um pouco no restante da vida, carreria profissional, e todo o resto.

Quem vai ou foi pra Kona sabe como é correria treinar para o Mundial. Uma luta contra o tempo todos os dias para chegarmos na melhor forma da temporada e até entao, pois é uma oportunidade única, e se deseja mostrar um resultado expressivo.

A luta para Kona é complicada. Alguns anos mais que outros, algumas pessoas, mais outras. A minha preparacao em 2008 foi muito complicada e difícil. Floripa 3 meses, foram 12 semanas SEM parar de chover um dia só! Tudo alagado, morros desbarracados, roupas molhadas, enxarcadas, nada secava, tudo embolorava. Completei uns 3 ou 4 longos de 6hrs no rolo. E pra completar um mes e pouco antes sofri um acidente feio de bike, cai de cara no asfalto. Quebrei dentes, mandíbula, pontos no queixo, etc e tal; foi difícil superar a estrada, a dor, as sequelas que ficaram por mais de um ano. Desisti de competir, fui pra completar.

A luta nao foi só minha. Tenho MUITOS amigos com estórias tao duras quanto.

A luta pra Kona existe. Sao muitos os obstáculos que superamos para estar na linha de largada.

Sao treinos, doencas, acidentes, dinheiro, falta de patrocínio, falta de paitrocínio, etc e tal. Difícil é permanecer equilibrado e altamente focado quando nossa luta nao é em APENAS ficar mais rápido na natacao, na bike e na corrida. Nossa luta é a mais simples. Garantir a ida, a estadia e a volta.

Deveria ser mais simples. Mas no nosso país, neste esporte, pra essa competicao, nao é.

Esse post eu ofereco a todos os brasileiros que estao rumo a Kona 2011. Muitos amigos, e outros conhecidos. Muitos de Floripa, outros de todos os cantos do nosso país. Cito alguns, Ciro, Aninha, Valéria, Mingana, Vanuza, Marise, Thaís, Topan... a lista esse ano está grande.

Quando conquistamos a vaga pra Kona, o feito inacreditável se torna banal perto de tudo que se vive nos meses seguintes na preparacao para o Mundial. Quando nao se conquista a vaga, se trabalha duro pra um dia conseguir de novo.

Penso, que muitos banalizam os feitos históricos de Fernanda Keller. 23 anos seguidos na ilha nao é pra mais ninguém no mundo. Suspende comentário algum.

Penso, na nossa rainha de Kona mais próxima da realidade das amadoras brasileiras. Tive o grande prazer de estar em Kona junto com ela em 2008. Esse ano ela retorna a ilha. Foram 7 ou 8 vezes na ilha, e uma ou duas vezes recusando a vaga. A primeira e com certeza melhor Ultraman brasileira, a Marise Junqueira, de Curitiba. A mulher compete, muitas vezes, com meninas de 20 anos.

Quando penso em Fernanda, penso em um ícone que ninguém nunca vai alcancar. Suas marcas sao fortes até hoje. Já quando penso em Marise, penso em uma rainha de Kona mais real. Ambas sao humildes. Ambas sao mais velhas. Ambas continuam fazendo história.

Quando penso nas duas mulheres, penso que uma, duas, tres vezes em Kona é pouco, insignificante perto do que ambas tracaram até entao. 

A trajetória até Kona é apenas um pequeno trecho de nossas vidas. O desejo de permanecer sempre no topo e fazer parte da grande festa é, com certeza, motivo e foco de vida de muitas pessoas.

Para muitos de fora, parece muitas vezes, sem sentido, vício, doenca, neurose. Eu nao respondo mais. Entende quem vive, entende quem presenciou; ou entende quem quer.

Quem foi a Kona, entende. Ë impossível nao desejar voltar mais uma vez. É um desejo incontrolável, maior que muitos outros objetivos da nossa vida.

Bora Brasil, estarei na torcida!