quarta-feira, 29 de maio de 2013

IM Brasil 2013



Após uma grande perfuração no tímpano e 40 dias sem nadar, não tinha pretensão de diminuir meu tempo no IM Brasil e muito menos ganhar a categoria. E havia decidido, desde o início da temporada, que este ano, não iria para Kona.
Os 40 dias sem natação foram os mais difíceis que já passei antes de um IM. Foram inúmeras tentativas com moldes de silicone, máscaras de mergulho, tampões, toucas, para que conseguisse treinar a modalidade que mais havia investido desde o início da temporada. O volume de água que entrava no ouvido ainda era grande, por causa da duração e da intensidade dos treinos. Há 20 dias para a prova, tentei um treino de natação, muito sofrido, com tampão e toucas apertando a cabeça, no qual a água atingiu o labirinto, me deixando tonta, com dor, e deixando a piscina imediatamente. Essa foi a noite mais sofrida, em que tive que tomar a decisão de que iria para o meu décimo IM sem nadar. 

O treinamento de piscina, nessa temporada, tinha sido divertido e forte, com meu treinador Samir Botelho, e sua assessoria Elo, o grupo é grande, e os treinos fortes.
O treinamento de corrida foi, como sempre, sozinha, no horário de almoço, ou saindo do trabalho para casa, ou de casa para o trabalho logo de madrugada; e os mais longuinhos, após os longos sábados de trabalho, emendava as 3 ou 4 voltas na Brigada Militar – percurso duro com muitas subidas.
O treinamento de bike foi limitado. Conseguia ir e voltar para o trabalho de mtb uns 3 ou 4 dias na semana; completava 2 dias de rolo na semana, com no máximo 1hr de duração – treino de intensidade- e mais 1 ou 2 dias na estrada- sexta e domingo, quando conseguia. Quase sempre sozinha, às vezes, conseguia juntar com a Cintia, e alguns longos, fiz com o meu aluno que iria fazer seu primeiro IM. Foi pouco, mas sabia que conseguiria manter, evoluir não.

Fui para Floripa, e fiquei 2 dias no Ap da minha família gaúcha -Ibarra-, no centro. Corri na Beira-mar um dia, descansei o resto do dia; na quinta, pedalei em Jurerê e descansei o resto do dia. Sexta, fui para Jurerê, no Ap que alugamos juntamente com o pessoal de Americana; William e Cia limitada. Foi sensacional! Sexta fiz um treino de 30’ de corrida socando a bota, com pace de moto, e de resto era só dormir, preparar os equipamentos e pedir proteção para o grande dia. 

No jantar de massas encontrei todo o pessoal; amigos que não via desde o IM do ano passado; conheci novos atletas de outros países. Foi muito gostoso. Entrei no clima, com a certeza de que não importava o resultado, mas sim, que estava junto com pessoas que gosto tanto, fazendo o que mais gosto de fazer. Isso importava mais do que tudo; fiquei feliz.

A prova

Logo na largada da natação encontrei Diogo, Orival, e Du, e ficamos pra esquerda, na tranquilidade. Dada a largada, nenhum tumulto. Paraíso. Foi uma natação gostosa. Fiz a primeira perna da natação em 35’ e investi em uma natação tranquila com braçadas mais fortes e eficientes, sem grande número de cadência. Já na segunda perna da natação, estava cansada, e tive que mudar a estratégia de nado, para um maior número de braçadas – fui patinar- com pernada mais forte. Sai da água travada muscularmente, mas não cansada. 

Bike

Sai para pedalar e fui passando muita gente. Primeira volta da bike foi ótima, com o tempo de 2hr40’. Já na segunda, bateu um ventinho que moeu minhas pernas. O ritmo caiu um pouco; senti um cansaço acumular, e a volta teve altos e baixos. Terminei o pedal em 5hr29’, o mesmo tempo de sempre- 2010 e 2012. Sem novidades. Sei que fisiologicamente, se fizesse um pedal abaixo de 5h20’, não conseguiria correr bem. 
Em todo o pedal, pensava no que o Ricardo havia me falado no dia anterior, no bike check-in, em que apontou uma bike velha e podre e disse que havia feito o Iron com ela em Porto Seguro, há muitos anos atrás. Lembrei do povo do Hawaii, que fez o primeiro Iron com uma bike podre e short jeans. Sabia que não tinha o que reclamar. A bike era emprestada, as rodas também, mas tudo de alta tecnologia e qualidade. Isso me fez ir em frente em todo ciclismo. "O que sou eu, perto deles?!"


Corrida

Sai da bike tão travada do pescoço e tão moída das pernas, que pensei que não conseguiria correr. Pensei nas condições de vários IMs que estava pior e apenas fui. Fui encaixando uma corrida relativamente forte. Pensei uma frase que o Daniel havia me falado um dia antes, quando estava me alongando; "Acredita em você....", e uma frase de Fernanda Keller "No auge da dor, vale a pena fazer mais força, porque dor você vai sentir, agora vale a pena puxar mais, pois você vai mais rápido". 
O sofrimento e a dor era tanta, que quanto mais forte conseguisse correr, antes iria acabar. E foi. 10km pra 44’ e 21km pra 1hr40’. O restante, caiu um pouco o ritmo, e pensei nas palavras do Daniel, mais uma vez "Fisiologicamente é impossível você quebrar tanto de uma volta para a outra... é quebra piscológica..."
 No km 18 já estava liderando a categoria, pois tudo estava sendo controlado pelo meu treinador que estava fora da prova, próximo de Canasvieiras, vendo as meninas passarem. 

O Iron só acaba até realmente acabar. Cheguei muito emocionada, pois não só terminei mais um IM, como apesar de tudo problema de ouvido, diminui o tempo de prova.

Ironman Brasil, para mim, é uma prova muito especial. Foi onde comecei no triathlon, e na cidade que mais amo. A torcida é muito grande, e muito especial. Desde o staff da prova, que são colegas de faculdade, até o pessoal que mora em Jurerê e Centro e ficam na torcida, e os atletas e amigos que vêm prestigiar o evento e gritam muito pra mim! Quanto carinho, quanta emoção! 

1º lugar ag 25-29 anos, 19º geral feminino e 212º geral prova. Rumo a mais um Ironman World Championship em Kona.

Agradeço aos meus treinadores Ricardo Dantas e Samir Botelho, que vieram me apoiar até na prova.
Ao 3T, pelo uniforme personalizado.
Agradeço ao Daniel Camacho pelo apoio, palavras e alongamentos, em mais um ano prévio a prova.
Agradeço a todos aos amigos IMs que estavam dentro da prova, e SEMPRE paravam para me incentivar, ou mostraram preocupação comigo e com o ouvido. Mesmo diante de um desafio e de dor, se mostraram amigos e motivadores. Sem palavras.
Agradeço a minha família, minha mãe que foi a única que veio me acompanhar, este ano. A minha família gaúcha de Floripa, que SEMPRE estão comigo, desde o início da minha vida de triathlon.
Agradeço aos amigos que vieram torcer. Pessoal de SC, de Curitiba, de Campinas, de Floripa, de Sp. E também toda torcida longe.
Agradeço ao William Barbosa pela roda emprestada e pela Cia no Ap.
Agradeço a minha irmã pela bike TT, novamente emprestada, e toda torcida de longe.
Agradeço ao Flavinho, mais um ano, pelo case emprestado.
Agradeço ao amigo Diego Testolin pela torcida, e patrocínio para a vaga de Kona.
Agradeço ao Rafa, meu anjo, amor e companheiro, por todo apoio e compreensão.
Agradeço a Deus pela benção e proteção sempre.























Enquanto estava incapacitada de nadar, e a espera do grande dia, não conseguia entender qual seria a lição desse momento de dor e sofrimento. Eu já aprendi o espírito desse esporte. Já fiz provas apenas para terminar, pelo prazer de estar lá, sabendo que mesmo com tudo errado, o importante era terminar. 

Hoje, após tudo, entendo que as lições que aprendi com isso tudo, vão muito além de palavras, crenças, religião, amor ou perseverança. 

Não deixar se abater por um grande obstáculo é uma tarefa muito mais difícil do que pode ser dito e repetido. As vezes, a gente deseja tanto uma coisa, que um grande obstáculo muda o rumo de tudo. 
Talvez seja essa mudança necessária; aquela que não acontece dentro de nós mesmos ou perante o obstáculo; mas aquela mudança que te vai levar pelo caminho ainda mais longo e ainda mais difícil. 

A dor passa. O sofrimento passa. Tudo passa. 
Não importa se você ganhe ou se perde, você é a mesma pessoa que era quando foi dada a largada...
 ...



Agora, de volta ao trabalho e rumo a cirurgia... Depois mais uma temporada de treinos!
EU VOU PRA KONA!!!!

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