quarta-feira, 30 de março de 2011

Eu

Muitos atletas não me conhecem, e mesmo aqueles que conhecem, não sabem como iniciei no triathlon ou no esporte. Resolvi tirar um tempo pra descrever um pouco do meu caminho no mundo do esporte. Os atletas que me conhecem ou apenas aqueles que me vêem nas provas percebem que tenho uma corrida muito forte, e que realmente se destaca dentre uma prova de triathlon.


Iniciei na corrida de rua com 13 anos, para acompanhar meu pai em tempo de lazer. E já com essa idade percorria um trajeto de 12km com muitas subidas, que ate’ hoje e’ um dos meus preferidos em Campinas, na estrada para Souzas. Com o passar dos anos evolui nas distancias; foram poucos os dias que me lembro de não ter saído para correr. Ao longo da adolescência sempre ouvi muitos elogios sobre a performance nas corridas, e também muitas cri’ticas pela idade e distancias tão longas percorridas. Não tinha mais jeito, havia encontrado uma das maiores paixões da minha vida, corridas de longa distancia. Quanto mais longa, mais prazerosa e mais desafiadora. Pra mim, não existia e ainda não existe desculpa de falta de tempo. Já tive que acordar as 4 da manha pra correr, por mais de um ano seguido, e sei como uma rotina assim pode ser dura. Mas certamente e’ muito mais feliz, eficiente e equilibrada. Ter disciplina e regra e’ necessário para qualquer setor da vida, seja no trabalho, em casa, no relacionamento, na educação dos seus filhos, na tua educação.

Sai’ de casa com 19 anos para estudar na universidade em Floriano’polis. E nessa ilha ma’gica iniciei no triathlon. Após ter grande destaque ao ser vice campeã de uma ultramaratona de dois dias de grande dificuldade na ilha, uma treinadora me apresentou o triathlon e com apenas 6 meses de muito treino, 7 provas completadas e uma nova paixão, ganhei de presente uma inscrição para o Ironman; prova recomendada para atletas com anos de experiência. Aceitei o desafio com muita felicidade.

Com minha bike de ciclismo adaptada para triathlon, sem rodas de competição ou qualquer equipamento de melhor qualidade, mas com muitas boas vibrações, me surpreendi negativamente (sim!) com a energia do evento. Comecei a perceber que diferentes dos corredores de rua, que não desfilam ou ganham algum tipo de status social com o tênis e o uniforme que usam; sentia que grande parte dos triatletas não estavam la’ de alma e coração diante desse esporte magnífico e desafiador. As ruas estavam cheias de grupinhos que desfilavam seus equipamentos monstruosos, já discutindo as expectativas para o dia da prova, e comprando novos itens na tal expo, que eu insisto a chamar ate’ hoje de “feira”. Lembro de ter ficado surpresa com o domi’nio capitalista total em uma prova tão honrada e de grande historia. Não era dessa maneira que eu encarava o esporte; minha visão era diferente.

Finalizei meu primeiro IM com 11hr20’, um primeiro lugar (para minha surpresa!) e uma vaga para Kona; a vaga mais desejada pelos triatletas. Descobri minha colocação na própria rodagem de vagas ao ser a primeira pessoa chamada. Imagina o desespero da grana que eu nem tinha, mas que no final tudo deu-se um jeito.

Em outubro 2008 la’ estava eu, em Kona, literalmente o paraíso do triathlon, com menos de um ano de esporte. Quanto mais eu “sentia” e experienciava o IM mais tradicional do mundo, mais me sentia um peixe fora da água. Me questionava o tempo todo, o porque estava no meio daquele povo, pois não tinha nada de semelhante com eles. Sempre que retorno, ainda me pergunto isso ao menos uma vez. Citar a minha vida, minha rotina, meus equipamentos, estrutura e treinamento em geral, e a de todo o resto dos atletas ali presente, parecia uma comparação cômica. Pore’m, descobri que não era apenas eu que tinha passado por infinitas dificuldades financeiras, estruturais, físicas e psicológicas para conseguir estar naquela largada. Certamente éramos poucoas, mas existiam atletas com equipamentos “mais ou menos”, sem rodas de competição, e certamente muito mais abençoados por estarem la’.

Fechei meu primeiro ano em Kona em 12hr01 e por ter conseguido me bancar na viagem, fiquei praticamente o ano de 2009 todo com uma so’ competição. De la’ pra ca’, também, tive a grande experiência de me treinar por minha conta. Fechei o IM 2009 Brasil em crise e tormento mental, por saber que mesmo se ganhasse, esse ano não estaria de volta a Kona. Em 2010, consegui fazer milagres e participei de uma belíssima temporada de competições, todas com resultados excelentes, conseqüência certamente, da grande vontade e paixão de conseguir ter a oportunidade de estar fazendo algo que me deixa tão feliz e completa. Completei 3 long distances, um olímpico, provas de corrida de rua, o melhor IM que fiz ate’ hoje (10hr23’) e retornei a Ilha mais especial que existe. Finalizei o ano com um po’dium muito especial, uma viagem inesquecível, um novo treinador (o melhor), novos amigos e um grande caminho traçado em apenas 3 anos de triathlon. Em 2011 consegui grandes apoios e parceiros e certamente vou me empenhar ainda mais para representa’-los e honrar toda confiança!

O esporte faz parte do meu dia e me domina positivamente, e sempre foi assim. Ele me levou a diversos lugares em todo o Brasil e no mundo, e principalmente, trouxe ‘a minha vida pessoas que carrego pra sempre. Hoje se me perguntarem o que vai ser daqui pra frente, digo que vai ser o que tiver que ser, como sempre foi. Se não tiver a oportunidade de estar em todas as competições que gostaria, paciência; que isso sirva novamente pra me mostrar meu desejo imenso de estar no meio de uma. Se não conseguir alcançar os resultados esperados, força; que isso seja motivo novamente para conseguir mostrar o que sou capaz e ate’ onde posso ir. Se tudo der errado, continuo sendo a mesma pessoa que sempre fui. E se tudo der certo, me tornarei uma pessoa ainda mais feliz e realizada. De qualquer maneira, não tenho nada a perder, e seguirei sempre, de um jeito ou de outro, tentando.

Minha alma e’ alimentada de superação, luta e amor. E o esporte me traz tudo isso e muito mais. O futuro ningue’m sabe. Sei que meu caminho já foi traçado. Carrego o esporte na rotina dia’ria e nas competições, e de qualquer uma das maneiras, aceito com muita alegria e benção. Carrego o esporte comigo, aonde for ele faz parte de mim e das escolhas que faço.



4 comentários:

  1. Caramba... que texto espetacular... nunca tinha lido o meu pensamento em algumas de suas palavras.

    Parabéns por tudo e pelo belo exemplo.

    ResponderExcluir
  2. Belo texto Lú!!

    Mas vc não falou nada do pódio em Kona 2010

    Quinta na categoria!!!!!!!

    ResponderExcluir
  3. Belo texto! Parabéns!
    Para o seu problema de se sentir "um peixe fora d'água" com aquele desfile todo nas provas de Ironman (coisa que me enoja também), uma palavra:

    ULTRAMAN

    É como eram os Ironmans antigamente, mas dura 3 dias! Heheheh.
    Ainda mais com seu histórico de ultramaratonista...

    Sucesso!

    ResponderExcluir
  4. Sensacional... Emocionante te ler!! ;-)

    Vc já é uma gde vencedora... e nos enche de orgulho! :-)

    Força ai.. estaremos sempre na sua torcida!!
    bjs!
    Le

    ResponderExcluir