domingo, 27 de novembro de 2011

Cabra da Peste e Mulher Guerreira

A semana pós Pira a antescedente a Cabra foi ruim:
Segunda descansei; terça nadei e a noite comecei a me sentir mal; quarta 40' rolo devagar só ativando as pernas e me arrastei 20' correndo, só pra constar treino e ficar mais tranquila. Comecei a perceber que estava realmente mal (sinusite forte, mal estar, febre, muita dor no corpo, cabeça explodindo...)- Trabalhei de noite chorando por dentro de tanto mal estar, estado febril, corpo inteiro latejando. Comecei a ficar com uma raiva de estar assim... Na quinta imendei turnos, fui trabalhar de manhã cedo pra poder viajar de noite, e cai na água em seguida, comecei a fazer o treino de natação e resolvi parar com 25', pois comecei a me sentir muito mal. Fui descansar e arrumar tudo pra viagem: bike, mala, um saco...

Em Fortaleza:
Cheguei em Fortaleza de madruga na sexta. Fui durmir 2 da manhã no albergue que ficava em Iracema. Acordei as 9, café da manhã do albergue caseirinho, bom demais. Montei e arrumei a bike, separei tudo pra prova, fui andar um pouco na praia e em seguida fui para o hotel oficial, Marina Park. Cheguei lá, fui dar uma olhada no lugar que nem estava hospedada -Joselita mor-, e lá fora encontrei com Orival e Rafa, de Campinas, encerrando a corridinha deles a força. Rss. Ficamos na sombra da piscina por 2 horas, e fiquei torrada, na sombra, de vestidinho e sundown. Me sentindo mal, dor de cabeça, sinute forte, estava difícil ficar na sombra, estava me sentindo bem mal, mas aquele pensando, -Fazer o que.. vamos ver... Me hidratei com água de coco, água, coca, sem parar.
Almocei no restaurante de lá, peguei o kit, e consegui carona pra voltar para Iracema, dar uma durmida rápida, arrumar o kit na bike e equipamentos, sacolas, banho pra me sentir melhor, e me deitei por meia hora. Tinha combinado de pegar a carona de volta e ir para o simpósio de volta no hotel, só que a combinação foi horrível e sem pegar telefone. Deu tudo errado, fiquei 30' na esquina que tinha dito, e ele na outra. Era fim de tarde, trânsito do inferno, caos total: buzinas, fumaça, motos em alta velocidade na calçada - Entrei em choque com o transito de lá! Nunca vi algo assim... Resultado: corri 2 quadras pra baixo de descida no pau, de chinelo, quando recebi a mensagem que minha carona estava no hotel, peguei um taxi para andar mais 3, que era um lugar extremamente perigoso que não dava para passar, em 5' estava no simpósio. Sai de lá nervosa, pois queria e precisava descansar bastante, e não ia ter muito tempo.

Sobre a prova:
Treinei para as distâncias sem saber muito do percurso, em termos de terreno, subidas, voltas, etc. Só ali na pisicna com os meninos é que eles me mostraram um vídeo que organização fez com os participantes, do Longão, distancia do Ironman -Pasmem-, apenas 29 pessoas, se não me engano. E de mulheres inscritas apenas 3. O vídeo mostrava uma foto de cada um com os nomes, e um breve currículo dos cascas grossas. Apesar de saber a dureza da prova, e que a maioria dos inscritos iam fazem a distância de meio Iron, fiquei em choque. Tinha imaginado umas 10 meninas, mas apenas 3?
Detalhe: meu número da prova era 01. Me senti honrada, tirei fotos de brincadeira, como favorita da prova. Tudo me empolgou, mesmo doente. Pois, em que outra prova na vida, eu seria a número um, e competiria com um número pequeno de guerreiros, e mais 2 mulheres?! Só o Cabra mesmo. Na verdade isso mostra que os campeões da última edição, 2009, não estavam inscritos este ano. O que fica claro a dureza da prova.


Sobre as mulheres:
Fiquei amiga da Jandiara, de 50 anos, e ela me falou que a outra guria era de Fortaleza, e era forte. Sinceramente, tinha treinado para ganhar a prova, mas não imagina que seriam tão poucas mulheres. No entanto, devido a situação de saúde que estava, eu sabia que acima de brigar por colocação com uma pessoa só, a briga principal seria comigo mesmo; contra a doença, e também contra a mãe Natureza. Ambas, sabíamos que teríamos que acabar, e isso acima de qualquer outro objetivo era o principal. - Na pior das hipóteses eu seria top 3 da prova. A gente brincou tanto com isso tudo, conversando na piscina...

Sobre as condições climáticas:
Depois de fazer provas duras, como Kona, Utah, em que a mãe Natureza se mostra comandando a todos, aprendi a ficar tranquila. Não adianta falar do vento, do sol, do calor, da subida. Vai ser igual para todo mundo, e vamos ter que encarar o que vier, sem escolha. No entanto, confesso que fiquei meio preocupada na sexta enquanto estávamos na piscina. O calor e sol estava de rachar desde muito cedo, na sombra, eu passava mal. A situação de doença me fez ficar muito mais sensível. O vento este dia estava assustador na beira da praia, e em lugares fechados. E sabíamos que lá, o vento seria pior. A gente riu muito vendo as cadeiras, mesas, jornais, tudo indo embora na piscina. E era óbvio que o vento assim era coriqueiro, natural. Pensei, vou conseguir ver qual IM é mais difícil, Kona ou Cabra.

Noite antes e dia da prova:
Fui de carona com uma galera muito gente boa de São Luís, MA, até Pão de Açúcar comprar hidratação para a corrida, batata para a prova, e algo para comer. Taxi de volta para o albergue, rapidíssimo. Fiz as batatas, arrumei todas as mochilas para o staff de bike que acompanharia na corrida, e de quebra a dona do albergue, queridíssima, me deu uma noite de sono maravilhosa, num quarto privativo com cama de casal, ventilador individual, sossego total. Tive a sorte de pegar tudo bem vazio, com poucos hóspedes. Comi um pão francês integral de 8 grãos com suco de gelatina, um gatorade, cama 9:30hr, pois tinha que acordar próximo das 3 da manhã. Tinha esperança de acordar melhor no dia seguinte.
Durmi bem e descansei legal, acordei, me arrumei, não comi, fui para o hotel, onde saíria o ônibus de quem era de fora saía as 4 da manhã. Testei minha bike por 5' na calçada do hotel, fui descansar e esperar. Não estava bem. Diarréia e vomito continuaram, então estava com aquela dor estomacal-intestinal de virose, cabeça explodindo e pesada da sinusite, e nariz totalmente obstruído. No ônibus a caminho, consegui comer 2 pêssegos pequenos, e metade de um lanchinho de pão com queijo, tomando água o tempo todo. Estava levando muita comida para o café da manhã, caso meu corpo pedisse, eu comeria. Mas já estava feliz de ter comido tudo isso.
Arrumado tudo na transição, fui no banheiro, e que lavagem intestinal... Fiquei tranquila, pois pelo menos, não teria que fazer nada durante a prova. Consegui comer metade de uma banana e um gel, 20' antes da largada. Resolvi largar e ver até onde eu podia ir, jurando que pararia caso não estivesse bem.
Cai na água e aqueci, me senti bem nadando, mas fazendo esforço pra concentrar as forças em uma coisa. Estava muito debilitada, eu sabia disso, mas tinha que enganar a mente para me concentrar, e repetir na cabeça que estava muito bem.

A natação:
Natação no Lago do Banana, com água salgada. Natação leve e rápida. Me senti como em Pirassununga. Fácil de nadar, raso, gostoso.
Largada masculina única e cheia com todos os atletas do Meio e do Iron. Largada feminino 30'' depois. Larguei puxando o pelotão feminino, sem olhar pra trás, passando os homens ruins. Encaixei um ritmo bom do começo ao fim, e na metade da 1a volta os pelotões de ritmos estava a postos. A natação estava vazia e tranquila. Sai da primeira volta e pulei na água de novo com 29'. Um ritmo bom, nem no máximo, nem muito tranquilo. Ritmo bom. Nessa primeira volta, pensei em parar, pois já me sentia debilitada e mal. Ignorei e pensei, vou acabar a natação, pelo menos. Me mantive no pelote de 3 homens que saíu da água junto, e fiquei na esteira, sem fazer força, nadando BEM tranquilo, e me sentindo bem fraca. Todos os momentos que ameaçava acelerar e sair do bloco, percebia que não aguentaria o tranco, e a melhor escolha foi ficar na esteira do Lucas, que era o melhor em navegação, e não fazia zigue zague como um outro dos caras -Esse dai nadou 4,5km, como ia pra um lado depois pro outro, nao mantinha linha reta nunca. Saímos da água em 1hr01'. Corri pra pegar meu chinelo, e tive que voltar pra passar no tapete, que marcou 1h02'. Primeira a mulher a sair da água. Isso foi fácil, agora a brincadeira ia começar!
A corrida do lago até a transição tinha um calçamento de pedras irregulares pretas. Tinha que correr molhada com chinelo. E o medo de perder um chinelo e dar com o calcanhar no chão?? Rss.
Ah, pasmem! A natacao inteira estava fresca, com o céu nublado! Seria, sim, um dia encomendado para gente!

A bike:
Fui para a transicao, coloquei bermuda, me arrumei e fiquei parada olhando, sem saber o que fazer. Pensei, estou muito mal, mas não vou parar agora. Vou subir na bike devagar, comer batata, e ver como estou, vou seguindo devagarzinho. Sai pedalando pensando em desistir o tempo todo, mas devagarzinho, resolvi continuar com esperança de que melhorasse. No km 45 não era mais a primeira mulher, e na verdade do km 1 até ali, as pessoas que saíam da água só me passavam. Mantive a cabeça forte, pensando que de qualquer jeito era bom estar assim, pois caso contrário, teria saído igual uma louca e no km 90 já teria quebrado. Foi um bom jeito de pensar que a situação necessária virou base de uma estratégia de um pedal conservador. Pedalei o tempo todo assoando o nariz. A situação era feia. Catarro verde limao, significa que a inflamação está brava. Nojento. Mas acredito que para atleta tudo é natural; xixi em qualquer lugar, essas coisas que quem não faz e não está acostumado acha nojento ao extremo. Pensei que não teria lugar no maio e no shorts mais pra me limpar. Rss. O pedal foi muito sofrido em relação a sinusite e tal, mas tenho que destacar aqui que até 2 hrs de pedal o clima estava ameno e fresco - Não se cansem de ficar pasmos! Rss- e o vento bem tranquilo! Um presente de Deus, pensei -Vai ter record esse ano.
Km 75 da bike pensei em desistir de verdade e parar no km 90. Só que ai, depois de todas as horas passadas, todo catarro para fora, alimentação, hidratação, água, água, água, FINALMENTE, me senti bem. Acelerei, estava me sentindo bem. Ousei e encaixei um bom ritmo. Como estava feliz. Aproveitei, pois não sabia quanto tempo isso duraria, mas tinha esperança que seria até fechar os 180km.
2 hidratações apenas no ciclismo, quando passava pegava 3 garrafinhas, e as vezes até parava. -Sim, Luiza Tobar, afobada, parando para pegar água! Rss- Uma no quadro da bike, outra, nas costas no meio do maiô, e outra saia bebendo e jogando no nariz pra limpar tudo. Segui assim o pedal todo, paciência com os catarros, força e concentração.
O ciclismo é aberto e é preciso atenção dobrada com os carros, pedestres, bicicletas de praia, moto, vendedor disso e daquilo, caminhões tirando fina em alta velocidade, buracos, areias, zigue zague, ultrapassagens.. Vamos embora, nada demais. Quem treina na rua está acostumado a isso. Os caminhões e carros ajudavam no sentido de cortar o vento e dar um vácuo rápido e incentivador. Mas muito cuidado com a combinação disso tudo, que pode ser fatal e te jogar bem longe. Além do que muitos carros e caminhões tirando fina em alta velocidade.
Bom, o tempo todo em todos os retornos, contava a diferença da menina do primeiro lugar comigo, então, apesar de tudo, estava focada na competição. O tempo todo 15' de diferença, o que mostrou que estava num ritmo constante bom.
Mas como nada dura pra sempre, no km 150 tive um grande baixo até o final do ciclismo. O sol abriu forte, os competidores começaram a sentir o cansaço, o vento abriu, e na última volta, todo mundo sentiu o que é vento de verdade, lateral, contra e a favor. Aliás o percurso todo tinha vento lateral, contra e a volta a favor, muito rápida. Um pedal muito rápido pra quem estava bem. Pedal gostoso, sensacional. Só que quando o vento de verdade bateu, minha gente, a ida com vento lateral e contra foi longuíssima, e a volta a favor também ficou mais sofrida pelo vento lateral forte em diversos pontos.
Pontos negativos: pouca hidratação no percurso do ciclismo - Vi um cara gritando desesperado por água na 3a volta, num retorno qualquer.- Poucos staff sinalizando a prova.
Tinha bastante polícia, mas polícia faz segurança, não mostra percurso. Gente o que eu gritei perguntando pra onde ia. Sei que parece coisa de loira burra, pois foram 3 voltas iguais e uma mais curta. O problema é que demoro mais de um dia para memorizar um caminho, ainda mais com um monte de curvas de estradas diferentes. - Em Floripa, quando comecei a pedalar, demorei um mês, pedalando 4 vezes na semana, para memorizar sem erro nenhum o percuso de entra e sai. Sempre entrava numa rua antes. Rss- Fiquei confusa no percurso em diversos pontos, nas diversas voltas. Tinha hora que eu entrava pensando que estava errada e que provavelmtente teria que voltar, até encontrar um ciclista do outro lado, e falar -Ufaa.
Do km 150 até o final, que seria 30km mas demoraram muito, pois controlando do meu cateye, o km 150 se extendeu até o mais de 200 até a transição. E nesse momento, estava muito mal, sem cansaço físico, debilitada, muito debilitada. Ciclismo interminável, eu sofri MUITO, muito mesmo. Comecei a ficar com raiva, e a gritar de dor, eu juro, parece exagero, mas um pedal longo é muito sofrido.
Boa notícia é que consegui engolir no ciclismo os 5 gels que tinha -uma marca horrorosa com protéina, que gosto ruim!!!- e batata na hora que pulei na bike. Depois eu tentei, mas cuspi fora, pois senti que ia vomitar. Consegui tomar 2 soros hidratantes também, e foi isso. MUITA água, o que foi diferente para mim, que nunca toma muita água no ciclismo. No entanto, era o que tinha e o que eu precisava.
Entreguei a bike tremendo, precisava comer, precisava de energia para conseguir correr. Entreguei a bike dizendo que meu cateye marcou 200km, eles me falaram que só o meu que marcou e que eu teria dado alguma volta a mais. Ok, deixa pra lá. Vamos correr. Cheguei até o final do ciclismo.
A 1a mulher estava com 3km de corrida quando eu estava na transição. Pensei que se fosse para eu ganhar, eu ganharia, pois teria 42km pra passá-la. E se ela chegasse antes, é porque mereceria ganhar.

A corrida:
Sentei na cadeira da transição, comi batata, melancia, coca, coca. 5 staffs me ajudando, passando sundown, me ajudando em tudo. Sai para correr depois de 7', quando tinha certeza que não tinha mais nada que eu pudesse comer para ficar bem.
A corrida já se inicia muito bem. O percurso até estrada principal são uns 3, 4km de curvas, mas abafado demais, sem vento algum. Como sofri no começo. Nao conseguia respirar nada pelo nariz. Tinha que inspirar e expirar pela boca. Péssimo. A fita de nariz não parava pois estava encharcada e não ia secar, então desisti de usá-la. A minha bike staff era uma menina de uns 16 anos de lá, atleta de short e olímpico. Ela levava a mochila dela, a minha com 3 garrafas de 1,5l de água, 2 garrafinhas de gatorade, uma mochilinha camel back com dinheiro, batata, bananinha, gel, pózinho mágico chamado Insure -que salvou meu dia-, soro hidratante, pomada. Era pesado, coitada da menina.
Como eu tenho sorte, a menina saiu pra pedalar e o pneu dela furou já no começo, ela ia parando enchendo e continuando.
Tentei tomar um gel, e vomitei. Percebi que não ia adiantar gel algum na corrida. Em todas as maratonas e corridas de Iron a única coisa que descia era gel. Agora me restava a última opção, que levei de emergência, pois estava doente, e não sabia como ficaria. O meu amigo me deu e eu resolvi levar. O Insure é um pó utilizado em pacientes em estado  de coma. Substitui uma refeição. O pacote tem 500kcal, e tudo que um indivíduo necessita, de carboidrato, gordura, proteína, vitaminas, sais minerais, tudo. Perfeito. Melhor invenção do mundo. Tomei água na garrafa, e pedi para a Sâmea jogar todo o pó restante na garrafa, e esse seria minha fonte de energia. Segui a corrida toda intercalando, água branca (Insure com água), gatorade, coca em lata - que ela ia comprar e trazia pra mim-, e água pura. Tomei apenas um soro hidratante, e percebi que não era uma boa opção, pois a barriga deu uma revira volta, o que indicou que era muito, e se tomasse tudo ia ficar com diárreia. Já estava repondo o suficiente. O Insure tinha tudo, e já tinha tomado dois no ciclismo.
Do km 5 aos 20 tinha passado 6 pessoas, sendo a menina por último. Ela era a típica triatleta, natação razoãvel, ciclismo forte, corrida fraca. Muito pesada, quando passei por ela,  caminhava e corria toda mole. Deu dó. Nesse ponto já estava me sentindo muito bem, corrida encaixada. Do km 1 ao 21, a corrida é dura, muitas subidas, percurso cruel. Do 20 ao km 30 passei por mais uns 4 caras.
No km 23, minha staff disse que não dava mais pra ficar enchendo o pneu da speed dela, e que ia parar na boracharia, eu falei pra ela ir muito rápido, pois precisava dela. Tinha acabado de ingerir algum líquido, mas estava controlando tudo e ingerindo de 10' em 10' algo. Precisava dela. Não queria que ela fosse. Ela foi. Fiquei sozinha, sem NADA por 7km. 7km sem água, apoio para o trânsito maluco. Foi cruel. O último cara que passei, o staff dele tinha música ligada tocando Chiclete com Banana, me deu água, e depois foi pra frente de novo e me deu mais água. Me salvou. Queria eu ter um staff com música. Mas ele foi um pouco meu staff né Rsss. km 30, no pedágio, tinha água. Na corrida toda só tinha hidratação no km 21 e no 30km, por isso o staff de bike individual. Cheguei no km 30, peguei 2 copos de água e falei que estava sem staff por um tempão -Já fazia 7km e nada- e que era um absurdo. A polícia militar contactou a organização. Em 5' eles estavam de carro do meu lado falando que iam me acompanhar, eu falei que eu não tinha nada meu comigo, e estava tudo com a guria. Eles foram embora e segui correndo mais 2km sozinha. Até que apareceu outro carro da organização falando que tinha tudo meu com eles, e que iam me dar apoio. O cara da organização viu meu desespero em correr sem apoio, e falou - Segue firme que você não está sozinha!. Estava correndo num ritmo forte, muito bem encaixado, me sentindo bem, apesar de tudo. Essa frase que ele me falou me atingiu em cheio. Me concentrei nessas palavras no sentido mais profundo dela. No sentido de como me sinto sozinha com apoio ao esporte, mas como, na verdade não estava sozinha. A gente nunca está, mesmo quando sente que está. Eu tenho muitas pessoas me apoiando e sempre tive. Nunca estive sozinha em qualquer prova. Meu número de peito mostra isso, em todas as provas. - Tenho a tradição de escrever atrás de todos os meus números de peito os nomes das pessoas que não estão correndo do meu lado, mas estão do meu lado, me apoiando em toda a jornada até ali. Treinadores, apoiadores, pessoas queridas que fazem a diferença. Me inspirei nas palavras dele e sai puxando o ritmo. O lugar era um caos, e o carro foi perfeito, pois eles se posicionaram atrás de mim, fazendo o apoio perfeito pra quem está nessa prova corrrendo sempre a favor de um trânsito maluco.
Nos últimos 8km a Sâmea apareceu, mas ela estava cansada, coitada, muito peso, muito tempo, e a organização resolveu me dar outro staff bike de presente nos últimos 8km, um menino. Acho que eu fui a única a ter 2 bike staff, um carro staff, e a ficar sem bike staff, tudo na mesma prova.
Bom de lá pra cá foi sofrimento puro. O percurso é interminável. Terreno muito instável e irregular. Muito buraco, muitos carros.. Mal humor chegou, não aguentava mais. A porcaria do Marina Park não chegava nunca. 8km mais longos da minha vida. Sofri muito, meu corpo pedia para parar, meu joelho sentia o acúmulo dos km em terreno irregular. Queria chegar. Queria chegar. Tinha que me acalmar, paciência, muita concentração. Era interminável. Coitado do menino, aguentou meu mal humor. Luiza chingando tudo. Aguentou os cruzamentos. Luiza passando no vermelho. -Eu falei que não parava pra nada. Se parar não continuo. É fato. - Me aguentou nos piores momentos.
Chegamos ao Dragão do Mar, entramos numa rua de paralelepípedo. 3km de paralelepípedo. Parecia uma piada de mal gosto. Dobramos outra rua, e o staff vira e me fala -Faltam 4km. Nossa, brincadeira?!! Sensação de ter corrido mais de 45km, e ainda faltam 4km. Que desespero! Comecei a chorar repetindo -Não aguento mais. Não aguento mais. Coitado do Staff. Só homem mesmo pra aguentar nesse ponto do dia, isso.  Entramos no calçadão da Beira Mar. lotado, meu staff abrindo caminho. Patins voando, um cara de skate saiu de um extremo para o outro e praticamente me atropelou. Só não encostou em mim, porque eu parei e comecei a chingar o cara de tudo quanto é nome. E o povo tudo olhando. Lotado de gente. Parecia shopping em fim de semana aqui em Campinas. Ninguém entendendo nada. Será que o povo não sabe que está tendo o Cabra da Peste, e que a chegada é 1km para frente?! È, conhecendo o meu Brasil, e nordeste ainda, acho que nem sabem o que é o triathlon Cabra da Peste e Mulher Guerreira.
Cheguei. 11hr57', sub 12hrs. O limite de horário que havia proposto. 1a mulher a chegar, 8 geral da prova.
Foi duro. Sofrido. Inesquecível.
Tenho que agradecer novamente meu treinador Ricardo Dantas, pessoa que me fez seguir em todos os momentos que pensava em desistir.
Agradeço meu treinador Samir Botelho, que fez um ótimo trabalho com minha natação. E vamos continuar trabalhando muito, por muito tempo.
Agradeço ao albergue que fiquei em Fortaleza, Terra da Luz, que foram muito hospitaleiros. Me ajudaram muito. Me senti em casa, bem acolhida, fazendo a maior zona na sala com monta e desmonta bike. Foram nota mil. Bem localizado, acolhedor, preço  bom -R$30 e poucos por noite com café da manhã. Tudo de bom! Adorei e voltarei!
Agradeço a 3T que mandaram meu uniforme de Criciúma para Fortaleza, e que infelizemnte, só chegou no dia da prova. Mas que sempre são atenciosos e incentivadores.
Agradeço a Mormaii pelo apoio ao longo do ano, mesmo com minha ausência no ranking das provas brasileiras.
Agradeço aos amigos e companheiros de Cabra 2011: Orival e Rafinha de Campinas. Jandiara, parceirona, de Vila Velha. Pessoal de São Luís, pelas caronas, conversas, fotos, torcida, e ajuda com táxi. Ao taxista que me deixo no albergue depois da prova e não me deixou pagar pela corrida. A mesma coisa com a dona do Albergue Terra da Luz, querida Cáritas. Pessoas que me inspiram a continuar fazendo o que amo, e que mostram que tudo o que eu faço não fica sendo em vão.
Agradeço a organização da prova. Que fez de tudo para consertar as divergências da prova e mostrar que estavam me apoiando ao longo da competição. Agradeço muito a organização, que tirou o pedal da minha bike para que eu pudesse ir embora, e mostraram um carinho enorme na minha chegada. Todos acompanharam minha corrida e minha prova.
Valeu demais.
A experiência de completar um Cabra da Peste é única. Vale a pena uma vez na vida. Vale a pena.
Eu, com certeza, voltarei com a saúde em ordem, para cravar um tempo mais digno. E convido a todos a irem prestigiar, principalmente as mulheres. A prova é tradicional e pode crescer só depende do público.
Agradeço a Verônica, ao qual disputei 1o lugar, e que apesar ter sido antipática, não ter falado nem oi, e ter mostrado que foi para ganhar e que é marrenta, fez do Cabra da Peste uma prova um pouco mais competitiva, e pedalou muito bem.
Agradeço ao Lucas de Piracicaba pela carona também e pela esteira na segunda volta da natação. Eu vira e mexe encostava no teu pé, e você tranquilo, nem me chutou. Me desculpe a péssima combinação da última carona, que deu errado.
Agradeço a todos que comentaram no meu resumo prévio sobre a prova no meu facebook.
Tudo que eu faço no esporte é por amor. Acredito que todos que estavam e que vão no Cabra da Peste tem esse perfil. Fazem porque amam. Fazem sem status. Fazem por auto desafio acima de tudo. Fazem porque sabem que vão acabar, e o simples ato de estar fazendo, sem, muitas vezes, poder traçar um plano de competição e de tempo, basta. Sem desfiles, sem lenga lenga. Como eu gosto de ambiente simples. Esporte pelo esporte.
Eu simplesmente amei a energia da prova. Desde os participantes até a organização. Os kits são maravilhosos, com camiseta, mala, chinelo personalizado, toalha personalizada, rapadura mini, um espetáculo de kit. Simples, mas muito legal! Na chegada, medalha e camiseta de finisher. Ah, se todas as provas fossem assim..
Parabéns a todos os participantes do Cabra da Peste 2011, TODOS, mesmo aqueles que não acabaram a prova! Parabéns pelo amor, dedicação , disciplina e coragem! Que um dia todos sejam Cabra! Porque Ironman qualquer um é, Cabra só os mais persistentes!
Encerro minha temporada 2011 que foi, sim, pequena em quantidade de provas, mas foi grande em qualidade; e produtiva na natação. Que a próxima seje ainda mais, na natação e no ciclismo, e aos poucos vamos trabalhando, desenvolvendo e progredindo.

Dois dias em Fortaleza pareceu como uma semana. Maravilhoso.
VALEU!



2 comentários:

  1. Sensacional Lu!! :-D muito legal o seu relato... Fechou 2011 com chave de ouro - merecia isso!! Parabéns mais uma vez... ;-)
    E realmente... você nunca está só - acredite nisso!
    E que venha 2012... :-D
    bjs, Le

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  2. Pow realmente você estava so u bagaço, vi seu desespero quando chegou no pedagio falando que seu staff bike tinha desistido, passando muito mal, quase não conseguia se hidratar. Nesse momento falei com as meninas que estavam comigo no posto de hidratação do pedagio, que ia te acompanhar, por que você ja estava em condição desumana rsrs. Ja tinha pego um Powerade e uns 4 copo de agua, quando apareçeu um senhor de carro peguntado ela (vc) ta sem staff e ? Ai respondemos que sim, ele logo pego o material que estava comigo entro no carro e se mando atrás de vc falando que ia te acompanhar.

    Eu não sabia se ia aguentar correr esse ultimos 12 km com vc, mas qndo vi todo seu sofrimento e desespero rsrs, ja tinha ate tomado a decisão de abandonar meu carro no pedagio e se mandar pra te dar essa força.


    Parabéns pela prova, e pelo amor ao esporte !!!


    Att;

    Ricardo Forte
    Staff do Pedagio.

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